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no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável. eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto
me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais.
pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele
o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente.
ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são.
as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir"
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror.
eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror
hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo.
"não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda.
bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação.
espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação. o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana.
é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro.
para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente. não dá pra sentir nada diferente da dor.
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre.
"não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda. o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror
mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação.
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação. para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente. marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror. não dá pra sentir nada diferente da dor. me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais. o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana. hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo. eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui. é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir"
pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável.
eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
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o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente.
as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais. bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento. é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro.
ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são.
hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo. é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir" espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável.
o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror
pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele
é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro. ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são.
o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana.
não dá pra sentir nada diferente da dor.
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação. bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror. o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente.
as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente.
"não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda.
mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação.
eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre. eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre.
mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror.
ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são.
me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais.
"não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda. para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente. não dá pra sentir nada diferente da dor.
o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável. o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana.
é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro. pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir" hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo.
espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto
o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente. horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação. bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto
não dá pra sentir nada diferente da dor.
espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto. as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror.
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação.
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre.
para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente.
mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação.
é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir" hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo. pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror
eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são. me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais. o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente. o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana. "não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda. é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro.
as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais. "não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror. o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente.
ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são. pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre.
hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo. mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação. ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação. no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável.
horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror
não dá pra sentir nada diferente da dor.
é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro.
bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente.
é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir" o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana.
espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
ele passa a achar que se desprendeu do tempo, que passado, futuro e presente acontecem simultaneamente. pra ele eventos não tem mais causas e consequencias, eles só são. "não tem o que fazer" é o lema do livro ("so it goes", no original). o billy repete isso toda vez que algo que deveria ter causas e consequências acontece. ficou comigo, me ajuda a lembrar dessa ideia toda.
pra mim, quando ele tira a causa e a consequência, o que ele tá falando é que violência extrema nunca é justificável. mais: não importa quem causou a dor e a morte. não importa o motivo. não importa o bem maior, nada é contrapeso pro terror da violência. o passado e o futuro de um massacre desses não são relevantes pro sentimento sobre o massacre. o sentimento tem que ser o mais amargo e viscoso e sombrio possível sempre. no rio nessa terça aconteceu um massacre terrível, no qual mais de 100 pessoas foram mortas. violência impensável. não dá pra sentir nada diferente da dor. é necessário encontrar culpados, identificar o que levou a essa situação, e tomar decisões para evitar esse tipo de atrocidade no futuro. o livro fala de um ex-soldado da segunda guerra (chamado billy). Esse cara passa por uma série de situações de terror indescritível, culminando em sobreviver a um bombardeio e subsequente tempestade de fogo. embora vivo, ele perde a mente. horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror, horror
eu nunca devo me sentir bem pensando em um massacre como o da semana passada. eu nunca devo me sentir justificado em ver isso. nunca devo sentir que um lado era melhor ou pior. só tem um lado, e ele é triste. existe moral na situação, mas nada do sentir pode vir da moral. não tem negociação moral possível aqui.
marcar culpados, marcar o mérito das vítimas, isso não deve mudar o jeito que penso na terça passada. para meus sentimentos tanto deveria fazer se quem foi morto era ladrão, era de bem, era homem ou mulher, era pobre ou rico. tanto faz se o rio vai ficar mais ou menos seguro. tanto faz se essa operação evitou ou causou uma maior quantidade de mortes futuras. pessoas sendo mortas é uma situação obscena, que só pode provocar o terror, o terror. me interessa entender essa incapacidade de processar o massacre. instintivamente tenho um pouco de vergonha dela, me parece que eu deveria sentir mais dor, mais ódio, mais terror, mais perdão, mais mais mais. as coisas não acontecem em ordem no livro, porque o personagem não pensa nelas em ordem mais.
é um livro sobre lidar com sentimentos sobre violência e guerra, o que faz dele bem único. normalmente livros que tratam desse tipo de situação estão interessados em identificar culpados e evitar a violência, identificar vítimas e julgar reparações. de certo essas são empreitadas nobres e necessárias, mas raramente o foco é "como eu devo me sentir"
espero que pra você também esteja sendo tão terrível quanto pra mim. no mínimo a gente pode sofrer junto.
pensando nisso, reinterpretei um dos meus livros favoritos, slaughterhouse 5 (matadouro 5). sob nova luz ele me ajudou a lidar melhor com a situação, e espero conseguir explicar a ideologia que tirei dele bem... não é um livro de soluções, é descritivo. sinto muito por não ter muita saída pro sentimento.
ao menos por em palavras me ajuda a entender um pouco do que, de como, estou sentindo sobre essa situação.
para mim, no entanto, isso não é parte do luto. "não tem o que fazer" não quer dizer que não dá pra fazer indo pra frente. mais um ponto, só para deixar claro. o luto inegociável de que estou falando NÃO EXCLUI ação.
eu não consigo segurar a severidade inteira ao mesmo tempo. é pesado demais. 100 pessoas. pessoas! como eu e você! mas você também sabe quão horrível foi o massacre. e, de qualquer jeito, palavras são frágeis demais para descrever a situação. tentar fazer isso aqui arriscaria quebrar o texto
o billy no livro é vítima imediata da violência, e então a dissociação de causas e consequências é MUITO mais forte do que a minha, como um espectador distante do massacre. imagina como é esse sentimento de não conseguir carregar nos ombros o amargor, mas em lugar de um pedregulho ele tem uma montanha para sentir. eu ainda consigo processar por alguns minutos a situação, da pra pensar um pouco na causa, nos culpados, nas consequencias. alguém que estava lá? que viu as pessoas sendo mortas na própria frente? horror, horror hora você vai estar trabalhando ou falando com os amigos, hora sua mente vai flash as imagens do massacre. esse massacre aconteceu, sempre vai ter acontecido, sempre vai acontecer. ele não é esquecido por quem passou por ele, ele tá sempre lá, ao mesmo tempo. você tem que viver com essas coisas, não tem o que fazer. é uma tristeza, só a tristeza do mundo mesmo.
o que estou descrevendo aqui não é um programa de governo ou manifesto de movimento social. É uma ética, um jeito de descrever o sentimento que tive nessa semana.